Tuesday 9 April 2019

“No pain, no gain”: Até quando é normal sentir dor depois dos exercícios?

“No pain, no gain”: Até quando é normal sentir dor depois dos exercícios?

Quem frequenta academia, pratica esportes ou é atleta de alto rendimento está acostumado a sentir dor. Isso é normal ou pode ser um alerta?
A expressão “no pain, no gain”, que em uma tradução livre para o português significa “sem dor, sem ganho”, é muito comum no universo das academias e da atividade física. Mas todo exercício está relacionado à dor? Sentir dores significa que o treino está dando resultado? Quando essa situação passa dos limites?
Antes de mais nada, sentir um pouco de dor é normal, seja para quem está começando a fazer atividade física ou para quem já está acostumado à rotina de exercícios. Sabe aquele incômodo que você sente quando muda o treino na academia? Geralmente, não é necessário se preocupar com isso, mas, em alguns casos, as dores são um sinal de alerta.
Cenário 1: quadro normal
O ortopedista Alexandre Paniago, da clínica brasiliense Arthros e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, explica que, durante a musculação, há uma dilatação das fibras musculares, o que ajuda no ganho de massa magra e a desenvolver os músculos.
No exercício também podem ocorrer microlesões nas fibras musculares. “Pelo esforço, as fibras se rompem e é liberada uma série de substâncias no organismo, entre elas o ácido lático. Há um aumento das enzimas plasmásticas secundárias às lesões. O acúmulo dessas substâncias faz com que se tenha dores musculares”, detalha o ortopedista.
O que fazer para amenizar?
Nesse caso, não há com o que se alarmar. Essa é a chamada dor muscular de início tardio. De acordo com Paniago, o incômodo pode aparecer de 24 horas a 72 horas depois dos exercícios e a sensação varia de pessoa para pessoa. Há quem diga que a manhã do dia seguinte a uma mudança de treino na academia é cruel, mas tem gente que sente os efeitos só no segundo dia.
Com essas dores, uma indicação simples é fazer compressas de gelo. “Ele faz a contração muscular e dos vasos e impede ou diminui a liberação daquelas substâncias mediadoras das dores. Isso diminui o processo inflamatório que ocorre depois das microlesões”, explica o ortopedista. Esse é um dos motivos para jogadores de futebol e outros atletas entrarem em baldes ou banheiras de gelo depois de treinos e competições exaustivas.
Para atletas amadores e frequentadores na academia, não é preciso tanto. Uma compressa de gelo no local do incômodo já deve ajudar. O aconselhado é fazer a compressa por 20 minutos e, depois, retirar o gelo do local. Pode repetir o processo por até duas horas.
Além disso, fazer alongamento e aquecimento, ou seja, preparar o corpo para o exercício, também pode prevenir dores e incômodos.
Cenário 2: dores insistentes
Em alguns casos, as dores não passam depois do prazo de até 72 horas citado pelo ortopedista. Quando isso acontece, geralmente o gelo não irá mais resolver porque o processo inflamatório já se instalou.
O que fazer?
Nessa situação, a compressa deve ser invertida e a pessoa precisa aplicar calor no local da dor. Porém, cada indivíduo tem uma resposta diferente aos exercícios e estímulos e o incômodo insistente pode ser algo além da microlesão normal. Para evitar problemas maiores e seguir o tratamento correto, o melhor é procurar um médico.
Cenário 3: alerta vermelho
Por outro lado, se a dor aparecer durante a execução do exercício, o melhor é parar. A insistência pode resultar em uma lesão mais grave. “As dores podem indicar vários graus de lesão, distensão muscular e até estiramento ou ruptura muscular”, comenta o especialista. Também é melhor ficar alerta se sentir algo agudo ou incapacitante, outro sinal de lesão mais séria.
Além disso, o exagero nos exercícios ou a execução errada pode resultar em outros sinais de alerta. Quando há um excesso daquelas substâncias liberadas na musculação, é possível que elas se espalhem pelo organismo, e febre ou alteração na urina são indicativos disso. De acordo com Paniago, essas enzimas fazem mal e podem atacar alguns órgãos, como os rins, por isso a urina passa a ter uma coloração mais escura, acastanhada, ou avermelhada.
O que fazer?
Nesses casos, como ressalta o ortopedista, é preciso procurar um médico para um diagnóstico mais preciso o quanto antes e evitar outros males.
O outro lado – quando o exercício ajuda na dor
Nem sempre as dores são resultantes dos exercícios e há momentos que a atividade física é indicada como um remédio. Ela pode, por exemplo, auxiliar no tratamento da fibromialgia , uma dor generalizada sem origem espefícia. Segundo Paniago, esse mal é mais comum nas mulheres e se manifesta com dores em diversas partes do corpo, seja nos músculos ou nas articulações. “Geralmente, o paciente nem consegue falar exatamente onde está doendo”, completa.
Ioga está na lista dos exercícios que relaxam e até ajudam a combater dores
Jorge Rodrigues Jorge/CZN
Ioga está na lista dos exercícios que relaxam e até ajudam a combater dores
 O quadro ainda pode vir acompanhado de formigamento, fadiga, falta de concentração ou memória. “Também é muito associado a ansiedade e depressão e nada tem a ver com os exercícios”, fala o ortopedista.
No tratamento são usados remédios como antidepressivos e também ativides físicas que ajudam a relaxar e aliviar a ansiedade, por exemplo.
Casos de dores mais simples também são beneficiados pelos exercícios. Para quem sente incômodos nas costas, sofre com má postura e passa o dia inteiro na cadeira do escritório, adotar na rotina exercícios que fortaleçam o core  pode ser um grande alívio.
A academia também pode ser um remédio para as dores de cabeça. Se for do tipo tensional, uma atividade relaxante e divertida, que mude o foco, irá ajudar, como aulas de dança ou ioga. Já as enxaquecas podem ser amenizadas com treinos mais vigorosos, daqueles que deixam a pessoa ofegante. Eles aumentam o fluxo sanguíneo e, consequentemente, aliviam o incômodo.
Dicas de quem entende
Seja para aliviar um incômodo, para ganhar massa muscular ou mesmo sair do sofá, é sempre indicado procurar um especialista antes de começar uma atividade física. “A musculação deve ser individualizada pois cada um responde se um jeito ao exercício”, alerta Paniago.
E quando tiver o treino montado, não confunda dor com esforço. É comum escutar nas academias que quando não sente mais dores, o corpo já se acostumou e o treino deve ser renovado. Essa troca deve estar relacionada ao esforço. “Se está fazendo legpress e chegou a 10 repetições com o peso indicado e ainda assim está se sentindo bem, como se pudesse fazer tudo de novo com tranquilidade, é hora de mudar o exercício ou a carga”, orienta o profissional. Também é indicado mudar o treino de tempos e tempos para que o corpo recebe novos estímulos.

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